R.I.P. 1 - Revival

quarta-feira, 4 de novembro de 2015 | | |




 Abri meus olhos, estava presa em uma caixa, abri a mesma e me levantei. 
Em uma lembrança rápida, recordei de tudo o que havia acontecido, olhei pra mim mesma, estava com minhas roupas rasgadas e completamente ensanguentada, mas não sentia dor, na realidade me sentia muito bem. 
As paredes eram brancas, como um quarto, sem porta ou janela. 
Isso é o fim? – me perguntei mentalmente 

– Não – escutei a resposta 

Me virei, um homem veio em minha direção,negro, grisalho, com um paletó branco, uma gravata cinza, sua imagem transmitia uma paz inexplicável, mas não tirava a confusão que permanecia em mim. 

– Lê mentes por acaso? 
– Sim – respondeu e sorriu – Já leu o que está escrito na parede? 
– Mas não tem nada escrito 

Ele apontou para a parede branca logo atrás de mim, quando me virei estava escrito uma frase em letra cursiva. 

– Leia em voz alta, por favor 
– Segunda chance – eu li como ele me pediu – Lembra bastante o sonho que eu tive – voltei a encará-lo – se esse não é o fim, então o que é? 
– Como você mesma leu, a segunda chance, tenho uma missão pra você 
– Missão? Você é Deus ou algo assim? – brinquei e logo ri da minha própria piada 
– Sim sou algo assim, se quiser me chamar de Deus – deu de ombros – parece um nome interessante 
– Por que eu tenho uma segunda chance? O que fiz pra merecer? 
– Quem fez pra você merecer isso – me corrigiu – quer ver? 
– Sim – respondi sem ter certeza do que ele queria dizer 
– Feche os olhos – pediu

Com certo receio fechei os olhos, era como dormir e começar a sonhar. 
Não demorou para que eu pudesse ver a imagem da chuva e aos poucos a cena do acidente, fui levada até o hospital e alguém batia na porta... Zayn. 
Ele recebeu a notícia da minha morte e saiu desolado do hospital, correu pra fora na chuva até o cemitério mais próximo, se ajoelhou diante do túmulo da sua mãe e apoiou a mão sob o túmulo do seu pai que ficava bem ao lado. 

– POR QUÊ?! – ele gritou – é isso que eu mereço? perder todo mundo?! Eu faço qualquer coisa, mas preciso da Mary, não posso perder mais ninguém

Ele fechou os olhos, apoiou as costas onde estava escrito o nome de sua mãe, não aguentava vê-lo chorando assim, abri meus olhos de imediato com a respiração descompensada e certa agonia em pensar como ele está. 

– Mas... – tentei dizer algo – vou simplesmente voltar? 
– Vai voltar, mas tem um porém 
– Que é? 
– É como se tudo o que viveram não tivesse acontecido, precisa protegê-lo, agora ele é uma pessoa completamente diferente do que conheceu
– Diferente? 
– Quando o conheceu ele estava lidando muito bem com tudo que acontecia na sua vida, agora vai ser diferente, a forma que ele age, como ele se sente, tudo... 
– Por que tudo isso? 
– Está querendo saber demais... respostas não são fáceis assim 
– Mas...
– Paciência – pediu – tudo tem seu tempo certo e um motivo, agora feche os olhos e cumpra sua missão

Fiquei pensativa por pouco tempo, não tinha certeza o que estava acontecendo. Mas fechei meus olhos, depositando total confiança no homem que estava na minha frente. 
Era como se meu corpo estivesse leve o suficiente para voar. Quando me senti segura, abri os olhos e estava dentro do meu quarto, que aparentemente era o mesmo de quando tinha 17 anos... 
Me levantei e a porta foi aberta pela minha mãe que sorriu ao me ver de pé. 

– Que milagre você já de pé em plena segunda feira... pensava que teria que tirar suas cobertas – riu 
– Mãe... em que mês estamos? 
– Maio – respondeu – por quê? 
– Meu aniversário de... 
– 17 anos? Vai ser em agosto, acho que dormiu demais, meu amor – se aproximou – mas nem tente fingir uma febre, vai pra escola hoje em 
– Sim, senhora – sorri e a abracei 

Ela correspondeu ao abraço ainda rindo e acariciou meus cabelos como sempre fazia, nem queria imaginá-la chorando por minha causa. 

– Tudo bem? – olhou em meus olhos
– Sim – ri – vou tomar banho – corri pro banheiro

Me despi e tomei um banho rápido, parecia que eu tinha voltado no tempo, com certeza seria bem estranho voltar a escola depois de anos, mas o foco não é isso, no momento é achar o Zayn, como será que ele está? 
Depois do banho, coloquei uma roupa (me lembrando que meus gostos aos 17 não eram dos melhores, mas dei um jeito) [1] e peguei minha mochila, desci as escadas, fui até a cozinha, onde meu padrasto e minha mãe tomavam café da manhã juntos. 

– Bom dia – eu disse 
– Acho que aconteceu alguma coisa é impossível a senhorita de bom humor em plena segunda feira de manhã  – minha mãe disse desconfiada 
– Deixa ela Beth – meu padrasto disse rindo – talvez tenha algo de bom hoje – olhou pra mim 
– Ah, tem um trabalho que estudei muito pra fazer e finalmente está pronto pra entregar – menti – estou feliz por estar livre dele finalmente – dei de ombros 
– Vou fingir que acredito – ela nunca cai nas minhas mentiras 
– Preciso ir – terminei de tomar o café 
– Não vai comer nada? – ele perguntou abaixando o jornal 
– Eu como na escola – eu disse saindo – beijo 

Peguei a chave de casa e saí pra rua, que estava completamente igual como a que eu passei minha adolescência inteira. Sempre fui calma, então não foi algo tão relembrável como a de muitos, só que dessa vez algo me diz que vai ser completamente diferente.
A escola não ficava muito longe de casa, então em menos de quinze minutos eu podia estar na porta. 
Quando cheguei olhei para os lados e logo fui surpreendida por Kate, ao me lembrar que no passado ela havia se casado com um cara péssimo e cortamos o contato já me parte o coração. De qualquer forma sorri pra ela e lhe dei um abraço. 

– Por que do abraço? – perguntou 
– Só fiquei com vontade, estou feliz hoje – comecei a andar – então... alguma novidade? 
– Sabe aquele Zayn que ficou problemático e ficou fora da escola por dois meses? Voltou 
– Ahn... será que ele está bem? 
– Desde quando se importa com ele? Se esqueceu? 
– Acho que sim, do que? 
– Meu Deus, parece que esteve em outro planeta esse fim de semana – revirou os olhos – foi o Zayn que colocou fogo no ginásio, você foi a única que ficou presa lá, quase ficou com o braço todo queimado, se não fosse o próprio idiota te ajudar, não sei o que seria de você

Engoli em seco em pensar nisso, logo me veio uma lembrança como se eu tivesse de fato vivido tudo aquilo. Passei a mão pelos cabelos e desviei o olhar. 

– Eu espero que ele esteja bem, deve ter sido uma barra passar pelo que ele passou 
– E pelo que ele passou? – ela disse debochada – os pais dele o tratam como príncipe, tem um baita carro, enquanto nós duas andamos a pé e não me lembro quando colocamos fogo em algum lugar – disse nervosa 
– Calma, Kate – a encarei – vamos esquecer isso e ir pra aula que é... –olhei na grade de horários  Educação Física 
– Senhora Botwin é tão chata, que bom que está de licença, ou seja, aula vaga – comemorou – vamos! 

Ela me puxou e fomos até o vestiário trocar de roupa, até irmos ao ginásio, que estava dividido entre as garotas que jogavam vôlei e os garotos que jogavam basquete. Logo apareceu vestindo uma bermuda preta da escola e regata azul escura, Zayn... não consegui desviar o olhar por um segundo, ele parecia tão fechado, com o olhar escuro, totalmente diferente pelo que... eu estava apaixonada. 

– Atenção no jogo, Mary! – uma das garotas gritou pra mim 

Voltei atenção a bola e saquei. Então fui me retirando do jogo de costas até ser derrubada, por alguém que provavelmente estava correndo. Ao me sentar, tentando me recompor, olhei pra cima vendo a imagem do Zayn olhando pra mim preocupado. 

– Estava correndo e trombei em você, mas também poderia tentar não andar de costas! 

Continuei olhando pra ele sem saber o que dizer, até Kate chegar no meio e me puxar pra levantar. 

– As vezes eu acho que você quer matar a Mary! – esbravejou – já não basta o que houve com o ginásio?
– Aquilo foi um acidente! – perdeu o controle de imediato – e você fica na sua – apontou pra ela – e... Mary, foi sem querer, okay? 
– Tudo bem, Zayn – olhei pra ele – só tente me manter viva até o final do ano, porque quero me formar – brinquei 

Ele deixou a expressão séria de lado e abriu um sorriso rindo baixo, voltou a olhar pra mim e assentiu se afastando. 
Saí do jogo pra tomar uma água e tentar voltar ao normal, mas fica difícil já que a presença do Zayn me deixou um pouco nervosa. Finalmente comecei a pensar no que a Kate me disse, sobre ele ser tratado bem pelos pais, no mesmo momento notei que ainda não aconteceu, seus pais ainda estavam vivos, eu tinha que tentar manter essa situação, não podia vê-lo destruído por isso novamente.
Minha atenção foi chamada pela Mary que vinha ofegante na minha direção, sem falar nada começou a tomar água no bebedouro, depois de satisfeita olhou pra mim. 

– Conseguiu tirar um sorriso do Malik, meus parabéns – limpou o suor do rosto 
– Só estava tentando ser simpática 

Ela me olhou desconfiada e mudou de assunto para as aulas seguintes. 
Troquei de roupa no vestiário e fui pra aula de inglês, me sentei em qualquer cadeira, joguei os cabelos pra trás e olhei para os meus livros tentando relembrar pelo menos um pouco da matéria. 

– Oi Mary 

Olhei pra cima vendo August, de pé do lado da minha carteira, me lembro dele tão animado com o emprego na Espanha em uma empresa importante, mesmo assim não perdeu o contato comigo, pra minha sorte, é uma pessoa que eu tenho um carinho enorme, me recordo plenamente de como ele foi julgado por todos quando descobriram que ele era bi, que na minha opinião, foi a maior idiotice já ocorrida naquele colégio. 

– Gus – sorri – tudo bem? 
– Sim e você? – perguntou 
– Muito bem 
– Pensei que estava fugindo de mim, sentou tão longe – disse decepcionado 
– Desculpa, hoje eu estou tão desligada que só sentei aqui... pega uma cadeira e senta na minha frente – apontei pra mesa

Ele assentiu e pegou a cadeira se sentando de imediato e se virando pra me encarar. 

– Vai pra festa do Dylan? – perguntou 
– Festa? – perguntei confusa 
– Está desligada mesmo em – riu – a festa que ele vai fazer pra comemorar o aniversário de dezessete, inclusive ele veio aqui pra te convidar parecia meio interessado em você 
– Ou só estava querendo mais uma garota pra sua festa – sugeri 
– Sempre tão negativa – revirou os olhos – não vá me dizer que prefere ficar em casa, muda um pouco Maryann 
– Não me chama pelo nome completo, idiota – mostrei a língua 
– Então promete logo, garota

Fiquei pensativa por pouco tempo, afinal, se eu queria as coisas diferentes na minha vida, tinha arriscar. 

– Eu prometo 
– Nem acredito que consegui te convencer – disse orgulhoso de si mesmo 
– Estou só querendo me divertir mais, agora vira pra frente, a professora chegou – apontei pra ela 

Ele virou-se pra frente de imediato, enquanto eu abria o livro na página que ela pediu... é, parece muito bom estar de volta. 


Continua... 





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