Em uma lembrança rápida, recordei de tudo o que havia acontecido, olhei pra mim mesma, estava com minhas roupas rasgadas e completamente ensanguentada, mas não sentia dor, na realidade me sentia muito bem.
As paredes eram brancas, como um quarto, sem porta ou janela.
Isso é o fim? – me perguntei mentalmente
– Não – escutei a resposta
Me virei, um homem veio em minha direção,negro, grisalho, com um paletó branco, uma gravata cinza, sua imagem transmitia uma paz inexplicável, mas não tirava a confusão que permanecia em mim.
– Lê mentes por acaso?
– Mas não tem nada escrito
Ele apontou para a parede branca logo atrás de mim, quando me virei estava escrito uma frase em letra cursiva.
– Leia em voz alta, por favor
– Segunda chance – eu li como ele me pediu – Lembra bastante o sonho que eu tive – voltei a encará-lo – se esse não é o fim, então o que é?
– Como você mesma leu, a segunda chance, tenho uma missão pra você
– Missão? Você é Deus ou algo assim? – brinquei e logo ri da minha própria piada
– Sim sou algo assim, se quiser me chamar de Deus – deu de ombros – parece um nome interessante
– Por que eu tenho uma segunda chance? O que fiz pra merecer?
– Quem fez pra você merecer isso – me corrigiu – quer ver?
– Sim – respondi sem ter certeza do que ele queria dizer
– Feche os olhos – pediu
Com certo receio fechei os olhos, era como dormir e começar a sonhar.
Não demorou para que eu pudesse ver a imagem da chuva e aos poucos a cena do acidente, fui levada até o hospital e alguém batia na porta... Zayn.
Ele recebeu a notícia da minha morte e saiu desolado do hospital, correu pra fora na chuva até o cemitério mais próximo, se ajoelhou diante do túmulo da sua mãe e apoiou a mão sob o túmulo do seu pai que ficava bem ao lado.
– POR QUÊ?! – ele gritou – é isso que eu mereço? perder todo mundo?! Eu faço qualquer coisa, mas preciso da Mary, não posso perder mais ninguém
Ele fechou os olhos, apoiou as costas onde estava escrito o nome de sua mãe, não aguentava vê-lo chorando assim, abri meus olhos de imediato com a respiração descompensada e certa agonia em pensar como ele está.
– Mas... – tentei dizer algo – vou simplesmente voltar?
– Vai voltar, mas tem um porém
– Que é?
– É como se tudo o que viveram não tivesse acontecido, precisa protegê-lo, agora ele é uma pessoa completamente diferente do que conheceu
– Diferente?
– Quando o conheceu ele estava lidando muito bem com tudo que acontecia na sua vida, agora vai ser diferente, a forma que ele age, como ele se sente, tudo...
– Por que tudo isso?
– Está querendo saber demais... respostas não são fáceis assim
– Mas...
– Paciência – pediu – tudo tem seu tempo certo e um motivo, agora feche os olhos e cumpra sua missão
Fiquei pensativa por pouco tempo, não tinha certeza o que estava acontecendo. Mas fechei meus olhos, depositando total confiança no homem que estava na minha frente.
Era como se meu corpo estivesse leve o suficiente para voar. Quando me senti segura, abri os olhos e estava dentro do meu quarto, que aparentemente era o mesmo de quando tinha 17 anos...
Me levantei e a porta foi aberta pela minha mãe que sorriu ao me ver de pé.
– Que milagre você já de pé em plena segunda feira... pensava que teria que tirar suas cobertas – riu
– Mãe... em que mês estamos?
– Meu aniversário de...
– 17 anos? Vai ser em agosto, acho que dormiu demais, meu amor – se aproximou – mas nem tente fingir uma febre, vai pra escola hoje em
– Sim, senhora – sorri e a abracei
Ela correspondeu ao abraço ainda rindo e acariciou meus cabelos como sempre fazia, nem queria imaginá-la chorando por minha causa.
– Tudo bem? – olhou em meus olhos
– Sim – ri – vou tomar banho – corri pro banheiro
Me despi e tomei um banho rápido, parecia que eu tinha voltado no tempo, com certeza seria bem estranho voltar a escola depois de anos, mas o foco não é isso, no momento é achar o Zayn, como será que ele está?
Depois do banho, coloquei uma roupa (me lembrando que meus gostos aos 17 não eram dos melhores, mas dei um jeito) [1] e peguei minha mochila, desci as escadas, fui até a cozinha, onde meu padrasto e minha mãe tomavam café da manhã juntos.
– Bom dia – eu disse
– Acho que aconteceu alguma coisa é impossível a senhorita de bom humor em plena segunda feira de manhã – minha mãe disse desconfiada
– Deixa ela Beth – meu padrasto disse rindo – talvez tenha algo de bom hoje – olhou pra mim
– Ah, tem um trabalho que estudei muito pra fazer e finalmente está pronto pra entregar – menti – estou feliz por estar livre dele finalmente – dei de ombros
– Vou fingir que acredito – ela nunca cai nas minhas mentiras
– Preciso ir – terminei de tomar o café
– Não vai comer nada? – ele perguntou abaixando o jornal
– Eu como na escola – eu disse saindo – beijo
Peguei a chave de casa e saí pra rua, que estava completamente igual como a que eu passei minha adolescência inteira. Sempre fui calma, então não foi algo tão relembrável como a de muitos, só que dessa vez algo me diz que vai ser completamente diferente.
A escola não ficava muito longe de casa, então em menos de quinze minutos eu podia estar na porta.
Quando cheguei olhei para os lados e logo fui surpreendida por Kate, ao me lembrar que no passado ela havia se casado com um cara péssimo e cortamos o contato já me parte o coração. De qualquer forma sorri pra ela e lhe dei um abraço.
– Por que do abraço? – perguntou
– Só fiquei com vontade, estou feliz hoje – comecei a andar – então... alguma novidade?
– Sabe aquele Zayn que ficou problemático e ficou fora da escola por dois meses? Voltou
– Ahn... será que ele está bem?
– Desde quando se importa com ele? Se esqueceu?
– Acho que sim, do que?
– Meu Deus, parece que esteve em outro planeta esse fim de semana – revirou os olhos – foi o Zayn que colocou fogo no ginásio, você foi a única que ficou presa lá, quase ficou com o braço todo queimado, se não fosse o próprio idiota te ajudar, não sei o que seria de você
Engoli em seco em pensar nisso, logo me veio uma lembrança como se eu tivesse de fato vivido tudo aquilo. Passei a mão pelos cabelos e desviei o olhar.
– Eu espero que ele esteja bem, deve ter sido uma barra passar pelo que ele passou
– E pelo que ele passou? – ela disse debochada – os pais dele o tratam como príncipe, tem um baita carro, enquanto nós duas andamos a pé e não me lembro quando colocamos fogo em algum lugar – disse nervosa
– Calma, Kate – a encarei – vamos esquecer isso e ir pra aula que é... –olhei na grade de horários – Educação Física
– Senhora Botwin é tão chata, que bom que está de licença, ou seja, aula vaga – comemorou – vamos!
Ela me puxou e fomos até o vestiário trocar de roupa, até irmos ao ginásio, que estava dividido entre as garotas que jogavam vôlei e os garotos que jogavam basquete. Logo apareceu vestindo uma bermuda preta da escola e regata azul escura, Zayn... não consegui desviar o olhar por um segundo, ele parecia tão fechado, com o olhar escuro, totalmente diferente pelo que... eu estava apaixonada.
– Atenção no jogo, Mary! – uma das garotas gritou pra mim
Voltei atenção a bola e saquei. Então fui me retirando do jogo de costas até ser derrubada, por alguém que provavelmente estava correndo. Ao me sentar, tentando me recompor, olhei pra cima vendo a imagem do Zayn olhando pra mim preocupado.
– Estava correndo e trombei em você, mas também poderia tentar não andar de costas!
Continuei olhando pra ele sem saber o que dizer, até Kate chegar no meio e me puxar pra levantar.
– As vezes eu acho que você quer matar a Mary! – esbravejou – já não basta o que houve com o ginásio?
– Aquilo foi um acidente! – perdeu o controle de imediato – e você fica na sua – apontou pra ela – e... Mary, foi sem querer, okay?
– Tudo bem, Zayn – olhei pra ele – só tente me manter viva até o final do ano, porque quero me formar – brinquei
Ele deixou a expressão séria de lado e abriu um sorriso rindo baixo, voltou a olhar pra mim e assentiu se afastando.
Minha atenção foi chamada pela Mary que vinha ofegante na minha direção, sem falar nada começou a tomar água no bebedouro, depois de satisfeita olhou pra mim.
– Conseguiu tirar um sorriso do Malik, meus parabéns – limpou o suor do rosto
– Só estava tentando ser simpática
Troquei de roupa no vestiário e fui pra aula de inglês, me sentei em qualquer cadeira, joguei os cabelos pra trás e olhei para os meus livros tentando relembrar pelo menos um pouco da matéria.
– Oi Mary
Olhei pra cima vendo August, de pé do lado da minha carteira, me lembro dele tão animado com o emprego na Espanha em uma empresa importante, mesmo assim não perdeu o contato comigo, pra minha sorte, é uma pessoa que eu tenho um carinho enorme, me recordo plenamente de como ele foi julgado por todos quando descobriram que ele era bi, que na minha opinião, foi a maior idiotice já ocorrida naquele colégio.
– Gus – sorri – tudo bem?
– Sim e você? – perguntou
– Muito bem
– Pensei que estava fugindo de mim, sentou tão longe – disse decepcionado
– Desculpa, hoje eu estou tão desligada que só sentei aqui... pega uma cadeira e senta na minha frente – apontei pra mesa
Ele assentiu e pegou a cadeira se sentando de imediato e se virando pra me encarar.
– Vai pra festa do Dylan? – perguntou
– Festa? – perguntei confusa
– Está desligada mesmo em – riu – a festa que ele vai fazer pra comemorar o aniversário de dezessete, inclusive ele veio aqui pra te convidar parecia meio interessado em você
– Ou só estava querendo mais uma garota pra sua festa – sugeri
– Sempre tão negativa – revirou os olhos – não vá me dizer que prefere ficar em casa, muda um pouco Maryann
– Não me chama pelo nome completo, idiota – mostrei a língua
– Então promete logo, garota
Fiquei pensativa por pouco tempo, afinal, se eu queria as coisas diferentes na minha vida, tinha arriscar.
– Eu prometo
– Nem acredito que consegui te convencer – disse orgulhoso de si mesmo
– Estou só querendo me divertir mais, agora vira pra frente, a professora chegou – apontei pra ela
Ele virou-se pra frente de imediato, enquanto eu abria o livro na página que ela pediu... é, parece muito bom estar de volta.
Continua...
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