RIP 2

segunda-feira, 4 de julho de 2016 | | |

Fiquei pensativa por pouco tempo, afinal, se eu queria as coisas diferentes na minha vida, tinha arriscar. 

– Eu prometo 

– Nem acredito que consegui te convencer – disse orgulhoso de si mesmo 
– Estou só querendo me divertir mais, agora vira pra frente, a professora chegou – apontei pra ela 

Ele virou-se pra frente de imediato, enquanto eu abria o livro na página que ela pediu... é, parece muito bom estar de volta. 



[...]


Quando as aulas finalmente acabaram me despedi da Kate que disse pra mim dormir afinal estava muito desligada, ela mal sonha tudo o que aconteceu, por fim falei com Gus que foi embora junto com seus amigos. 
Comecei a andar pra casa, não havia muitas pessoas que estudavam no colégio na minha rua e eu era um pouco antissocial, então voltava muitas vezes sozinha, mas dessa vez parecia que podia ser diferente, quando fui chamada. Me virei e vi um garoto loiro se aproximando de mim, com um sorriso mostrando seu aparelho quase impossível de notar. 

– Algum problema? – sorri de canto 
– Não... só que sou novo aqui, acho meio chato voltar pra casa sozinho, onde você mora? 
– É perto, sabe onde fica o supermercado principal? 
– Ah, moro perto desse lugar eu acho 
– Parece estar meio perdido – acabei rindo dele 
– Sim, estou – coçou a nuca – só sei ir da minha casa pra escola, e da escola pra casa 
– Vamos juntos, o que acha? 
– Ótimo – começou a andar – fiz poucas amizades até agora, os ingleses são meio reservados 
– Nem todos, é que você deve ter conhecido os chatos... de onde você é? 
– Irlanda, Mullingar, conhece? 
– Não – neguei – mas se tiver outros loiros feito você, vou gostar – brinquei 
– Meu cabelo é na verdade pintado, mas pode ter certeza que há vários loiros naturais por lá... mora aqui faz muito tempo? 
– Sim, eu nasci por aqui mesmo, é um lugar bom de morar 
– Minha mãe ainda está tão animada com a mudança, chega ser engraçado 
– E você? 
– Sinto saudades da Irlanda – me olhou de relance – mas aqui pode ser bom, tento não ser negativo 
– Boa sorte, eu normalmente sou negativa 
– Meu pai pediu pra não ser muito chato, estou tentando – riu baixo 
– Bem minha casa fica logo ali – apontei 
– A minha é no final da rua 

Quando chegamos até a porta da minha casa, falamos poucos palavras e decidimos nos despedir. 

– Bem, pode passar na minha casa amanhã e vamos juntos, o que acha? 
– Pra mim é bom, odeio ficar sozinho –cruzou os braços e sorriu 
– Tudo bem e fala pra sua mãe que pode vir conhecer a minha um dia desses, senhora Beth adora novas amigas 
– Vou dizer e... valeu mesmo 
– Não é nada 

Acenei com a mão e entrei em casa. Minha mãe estava sentada costurando algumas roupas, ela sempre trabalhou com isso e adora o que faz. 
Lhe dei um beijo rápido no rosto e subi pro meu quarto, no mesmo momento, tirei minha roupa e tomei um banho pra relaxar, tinha esquecido como a escola é cansativa. Quando saí do banheiro, me sequei e coloquei uma calça e um moletom, já que estava fazendo certo frio. 
Me sentei na cama e peguei meu celular, olhei para as conversar que eu tinha com algumas pessoas apenas pra saber como estava minha vida nesse momento, ainda parecia inacreditável tudo isso estar acontecendo. 
Sem querer cliquei no calendário, onde em negrito estava escrito o dia de hoje, 23 de Maio... essa data é familiar.
No mesmo momento me lembrei da imagem no túmulo da mãe do Zayn, 23 de Maio é a data que estava ali, o dia em que ela morreu. 
Me levantei da minha cama, calcei um tênis e desci as escadas correndo. 

– Filha, pra onde vai com essa pressa? 
– Eu... – pensei – esqueci de falar uma coisa importante pra Kate 
– Respira, se é só isso não precisa ficar nervosa 
– Eu volto depois 
– Não chegue muito tarde 
– Sim, senhora 

Saí de casa e comecei a pensar, precisava lembrar onde ficava a casa do Zayn. 
Lembrei do endereço e coloquei no GPS, então peguei um ônibus que me deixava perto do lugar, não demorou para que eu começasse a me lembrar da rua. 
Ao chegar de frente a sua casa, vi o carro saindo, coloquei as mãos no rosto sentindo que estava tudo perdido, olhei para o lado e Zayn saía de casa. 

– O que você está fazendo aqui? –perguntou 
– Ahn... só quis vir na lanchonete que tem aqui perto, é o melhor cachorro quente daqui 
– Realmente tem o melhor cachorro quente, mas você mente muito mal – fechou a porta da sua casa 
– Quem disse que estou mentindo? 
– Eu – respondeu e sorriu vitorioso 
– Então está errado – cruzei os braços 

Me lembro perfeitamente que ele assim como minha mãe sempre notou quando eu estava mentindo, seria difícil fazê-lo acreditar que estou falando a verdade. 

– Já que veio aqui pra ir na lanchonete, vamos lá 

Conferi no meu bolso vendo que não tinha dinheiro nenhum e ele olhou pra mim com um sorrisinho logo notando que eu não tinha escapatória.
Ele não iria acreditar se eu dissesse que estou aqui porque sei que seus pais vão sofrer um acidente. 

– Okay, você me pegou, não vim pra lanchonete 
– Ah, eu sabia – se aproximou – então por que está aqui? 
– Isso é assunto meu, não posso falar 
– Seria melhor ter dito isso no começo do que mentir 
– Pensava que acreditaria, e dizer que "é assunto meu" soa ignorante 
– Eu não me preocuparia em ser ignorante

Antes se preocuparia – pensei. 
Desviei o olhar e me virei olhando pela rua já não tinha nenhum rastro do carro, me sentia por um momento culpada por isso, mas minha missão é ele, tenho que cuidar apenas dele. 

– Vamos logo, te pago alguma coisa 
– Não vou aceitar você me pagando nada 
– Então eu te empresto o dinheiro e você me paga depois – revirou os olhos – vem logo – saiu andando

Apressei o passo pra chegar do seu lado e logo chegamos à lanchonete. Me sentei em uma das cadeiras e ele sentou-se logo a minha frente. 
Não conseguia parar de pensar em tudo isso em um minuto, olhei pra ele que mantinha a expressão séria, é tão estranho vê-lo assim, sendo que antigamente ele sempre que me olhava esboçava um sorriso nos lábios, mesmo quando estava bravo. 

– Me olha demais, por acaso está afim de mim? – riu debochado 

Eu era apaixonada por você, idiota – guardei o pensamento pra mim, mas no momento revirei os olhos tentando fazer parecer que essa ideia é impossível. 

– Só te olho pra ver se em algum momento você vai sorrir, porque parece estar sempre bravo com tudo – tentei parecer confiante 
– Se eu não tenho um motivo bom, não tem porque ficar sorrindo 
– Okay – ergui as mãos em rendição – melhor comer, não quero arrumar encrenca agora
– Engraçado, ontem parecia querer arrumar encrenca com quem te olhasse 
– Ontem? – perguntei 
– Na festa do Harry, quando passou só pra falar com sua amiga, brigou comigo todas as vezes que me viu 
– Hoje estou de bom humor, ontem não estava 
– Só isso? 
– Simples assim – sorri – foi mal se te ofendi – o encarei 
– Não pensava que você poderia ser legal, de longe parecia tão insuportável quanto a Kate 
– Ei... Não fala assim da Kate, ela é legal 
– Pra você, ela só sabe me acusar por um acidente 
– O que houve no ginásio? 
– Sou meio bipolar, quando fico nervoso acabo saindo um pouco de mim – desviou o olhar – eu queria mesmo colocar fogo no ginásio, mas pensei que estava vazio na hora, não chequei direito... só depois que o fogo começou eu notei que você voltou pra pegar alguma coisa 
– Se você está nervoso com algo é melhor fazer outra coisa, menos colocar fogo em um ginásio – adverti 
– Por que está dando essas dicas pra mim do nada? Por aqui só tem dois tipos de pessoas que se aproximam de mim tirando meus amigos, os interesseiros e as vadias 

QUAL O PROBLEMA DELE? 
Posso estar aqui pra protegê-lo, qualquer coisa, mas não posso escutar isso, se não seria o contrário de mim. 

– O que está insinuando?! 
– Eu... 
– Que eu sou uma interesseira pela sua fama de merda, claro – o interrompi – idiota fui eu de achar que podia conversar com você numa boa – me levantei 
– Ei calma, respira... se não faz parte de nenhum dos grupos, não precisa se ofender 
– Como não me ofender? Agora acho que posso entender porque briguei tanto com você ontem 
– Relaxa e fica sentada – apontou pra cadeira – não precisa ficar ofendida 

Ao lembrar do que possivelmente poderia acontecer, decidi me sentar pra não pensar no pior.

– Agora escolhe alguma coisa pra comer, eu pago 
– Será que pode pedir e parar de mandar?
– Acho que vou começar a mudar meu conceito de que você é mais legal que a Kate 
– Eu tento ser legal, mas você abusa 
– Tenho a impressão que você não tenta tanto assim, mas esquece esse assunto 
– Deveria me pedir desculpa 
– Acho que deveríamos pedir algo pra comer, porque desculpas de mim não vai escutar tão cedo 

O fuzilei com o olhar e ele sorriu parecendo adorar me ver nervosa. 
De qualquer forma pedimos um cachorro quente pra cada e um suco, enquanto esperávamos eu mexia a perna impaciente debaixo da mesa. Notei que ele iria brigar comigo mas foi interrompido com uma ligação no seu celular, quando seu tom de voz aumentou, já fiquei tensa pensando no pior, os lanches haviam chegado mas eu não conseguia desviar o olhar dele que ainda discutia ao telefone. 

– Preciso ir... aqui o dinheiro – deixou sobre a mesa 
– Algum problema? 
– Cuida da sua vida – respondeu rude 
– Bem, se precisar de ajuda estou aqui 

Ele me encarou e respirou fundo, passou a mão pelo rosto e olhou pra rua. 

– Era minha tia, ela disse que meus pais sofreram um acidente de carro, estão entre a vida e a morte 
– Zayn... – fiz uma pausa pra pensar – vamos no hospital – levantei 
– Não vai comer?
– Levo no caminho – peguei o lanche – anda logo! – o apressei 

Zayn levantou-se e pegamos a primeira condução que encontramos, ele parecia não acreditar, tentava agir normalmente mas eu tinha certeza que estava se esforçando pra parecer bem. 
Ao chegar no hospital, sua tia chorava na recepção acompanhada do marido, enquanto ele permanecia em silêncio, sem demonstrar alguma emoção, era estranho porque o Zayn que eu conheci teria falado algo pelo menos, eu demonstrado estar preocupado. 
Depois de um longo tempo esperando, o médico apareceu, eu sabia o que ele iria dizer, mas no fundo eu ainda tinha uma esperança, só que ao ver sua expressão, já notei que não havia mais o que fazer. 

– Não podemos fazer mais nada – ele disse – lamento muito, se quiserem mais informações, posso entrar em detalhes depois 

A tia dele já estava aos gritos enquanto seu marido ainda tentava contê-la, mas até eu sentia um peso por isso, meus olhos se encheram de lágrimas, olhei para o Zayn que estava sem reação, mas quando teve, saiu dali pisando forte e eu fui atrás dele o chamando mas o mesmo parecia não me escutar. 
Quando já estávamos fora do hospital, ele deu um soco em um carro aleatório trincando o vidro e cortou a mão, ele iria continuar se eu não entrasse na sua frente. 

– Some daqui, garota! – disse nervoso 
– Zayn, você precisa ter calma 
– COMO QUER CALMA? Meus pais morreram! Eu não tenho mais ninguém!

Fui até ele o abraçando, o mesmo ficou sem reação, até pude notar que ele chorava baixo, parecendo não querer que ninguém notasse e me abraçou. 

– Era pra mim ter estar com eles, me atrasei e os perdi – disse baixo 
– Então você merece estar aqui – o abracei mais forte 

Queria dizer pra ele a verdade, quem eu sou, o que já aconteceu entre nós e como tudo acabou, mas ele provavelmente falaria que eu enlouqueci e se afastaria de mim, logo eu não aguentaria ver de longe ele sofrendo, não tem como aliviar sua dor, mas talvez eu possa tentar. 

CONTINUA... 





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